Peão de estância- Décio Luis Basso
Peão de estância
Velho peão de estância
Ginete, laçados, domador
Por onde anda parceiro
Faz tempo que não te encontro
Trançando tentos pelas querências
Andas pelas esquinas das vilas
Perdido igual cachorro
Pedindo socorro pelas avenidas
Perdeu quase a vida e o couro
Bancando taura para cair dos potros
Anda sem rumo pelos corredores
Com marcas na cara
Tinha sonhos de cravar um rancho
Em qualquer canto na beira de estrada
Chuva, sol, verão, inverno
Enforquilhando nos bichos
Nada espanta esta gente
Esporeando, amando a pátria e o pago
Saudando o povo
O sorriso da prenda
Apaga o cansaço
Quantas coxilhas e descampados
Serviram de palco para domadores e potros
Quantos bandos de loucos
Olhando para o céu e pensando na vida
Atirando o chapéu para cima
Comendo terra, poeira
Esta farra e tradição
Mas não é brincadeira
Velho domador que destino
De andar batendo sem piedade
Não importa a idade dos malinos
Quantos caminhos podia ter seguido
Sem ter que manchar as esporas
Quebrar queixo de amigos
Que saudade peão do tilintar das esporas
E do fogo de chão
Quantos potros tu vistes nascer e crescer
No clarear das auroras
Pelas frestas do rancho
Olhando os campos
Lembrando o passado
Sentido no peito o estalo dos mangos
O ranger dos bastos e do laço
Do berro do gado
Quando a morte chegar
Quem vai te abençoar
Rezar com tantos pecados cometidos
Só um santo que anda a cavalo
Esse peão do céu de mãos dadas
Com o patrão de todas as querências
Só eles com toda fé e bondade
Terá coragem de perdoar
Tu andas cansado
Com riscos e marcas no lombo
Carregando nas costas fardos
De mil tombos
Rosto enrugado
Brancas melenas
Pernas tortas de tanto andar grudado
Em cavalos de muitas marcas e pêlos
Estou velho o tempo passou corcoveando
Não tem mais a força do braço
Não uso mais o chapéu tapeado
Pendurei a chilenas
E as histórias dos ventenas
Ficou no passado
Estes versos foram feitos pensando nesta gurizada de Pejuçara que andam pelos rodeios, cavalgadas . Desfilando vamos sempre exaltá-los e admirá-los pelo amor deles pelo pago e os cavalos.
Decio Luiz Basso