Peão de estância- Décio Luis Basso

13-01-2011 16:23

 Peão de estância

Velho peão de estância

Ginete, laçados, domador

Por onde anda parceiro

Faz tempo que não te encontro

Trançando tentos pelas querências

Andas pelas esquinas das vilas

Perdido igual cachorro

Pedindo socorro pelas avenidas

Perdeu quase a vida e o couro

Bancando taura para cair dos potros

Anda sem rumo pelos corredores

Com marcas na cara

Tinha sonhos de cravar um rancho

Em qualquer canto na beira de estrada

 

Chuva, sol, verão, inverno

Enforquilhando nos bichos

Nada espanta esta gente

Esporeando, amando a pátria e o pago

Saudando o povo

O sorriso da prenda

Apaga o cansaço

 

Quantas coxilhas e descampados

Serviram de palco para domadores e potros

Quantos bandos de loucos

Olhando para o céu e pensando na vida

Atirando o chapéu para cima

Comendo terra, poeira

Esta farra e tradição

Mas não é brincadeira

 

Velho domador que destino

De andar batendo sem piedade

Não importa a idade dos malinos

Quantos caminhos podia ter seguido

Sem ter que manchar as esporas

Quebrar queixo de amigos

 

Que saudade peão do tilintar das esporas

E do fogo de chão

Quantos potros tu vistes nascer e crescer

No clarear das auroras


Pelas frestas do rancho

Olhando os campos

Lembrando o passado

Sentido no peito o estalo dos mangos

O ranger dos bastos e do laço

Do berro do gado

 

Quando a morte chegar

Quem vai te abençoar

Rezar com tantos pecados cometidos

Só um santo que anda a cavalo

Esse peão do céu de mãos dadas

Com o patrão de todas as querências

Só eles com toda fé e bondade

Terá coragem de perdoar

 

Tu andas cansado

Com riscos e marcas no lombo

Carregando  nas costas fardos

De mil tombos

Rosto enrugado

Brancas melenas

Pernas tortas de tanto andar grudado

Em cavalos de muitas marcas e pêlos

Estou velho o tempo passou corcoveando

Não tem mais a força do braço

Não uso mais o chapéu tapeado

Pendurei a chilenas

E as histórias dos ventenas

Ficou no passado

 

Estes versos foram feitos pensando nesta gurizada de Pejuçara que andam pelos rodeios, cavalgadas . Desfilando vamos sempre exaltá-los e admirá-los pelo amor deles pelo pago e os cavalos.

 

Decio Luiz Basso